7.5.09

Baseado em fatos surreais...

1ª - Duas primas, paulistanas, começaram o namoro mais ou menos na mesma época, com um único diferencial: Uma conheceu o namorado pela internet e ele morava no interior de Santa Catarina, e o outro morava a uma quadra de distancia. Ambos os namoros começaram com muitas juras, planos, expectativas e a certeza de que dessa vez seria diferente. As duas passaram por um evento balisador... No primeiro caso o encontro presencial, que conseguiu superar as expectativas. No segundo a troca de emprego do namorado pra trabalhar com algo que ele tava muito afim há muito tempo. Passado o período dos eventos, alguns problemas começaram a aparecer... O virtual que inicialmente era atencioso e carinhoso começou a pecar pelo excesso, ligava com muita freqüência, duvidava que ela estivesse em determinados lugares e com determinadas pessoas, fiscalizava orkut, reclamava qdo saia ou chegava tarde em casa. O outro começou a ficar mais distante, nunca tinha tempo pra passar na casa da namorada, as ligações passaram a ser menos freqüentes e as saídas na tentativa de se enturmar com os amigos do novo trabalho, constantes. Cada vez mais esgotadas tentaram uma alternativa... A primeira foi passar férias com o namorado, um mês, na certeza que a muito da insegurança estava na distancia e a segunda resolveu procurar ser mais presente e participar mais dos programas que envolvessem pessoas do trabalhos do namorado. As duas descobriram que se enganaram... Insegurança não tem a ver com geografia e participar da vida de alguém não depende só da sua boa vontade. De um lado o esgotamento aumentava ainda mais por um excesso que a aniquilava, começou a perceber que estava perdendo vida social... Do outro a falta evidente e a presença de uma ausência aumentava ainda mais o sentimento da solidão... Na mesma semana ambas terminaram os namoros.


"Só depois que a tecnologia inventou o telefone, o telégrafo, a televisão, a internet, foi que se descobriu que o problema de comunicação mais sério era o de perto."
Millôr Fernandes



2º - O menino era gay, mas nunca demonstrou, não tinha amigos gays, não freqüentava lugares, não tinha trejeitos, gostava de futebol e já tinha tido algumas namoradas. Morava em casa ele, os pais, a irmã e depois do falecimento do avô veio morar a avó, segundo ele uma velhinha simpática, que parecia alheia a tudo que se passava na dinâmica daquela família. Não se sabe ao certo se fazia isso por que não queria interferir ou se o abalo gerado pela viúves a deixou mais distante mesmo. No período da tarde só avó ficava em casa, quietinha no quarto dela, n fosse a televisão qualquer um podia jurar que a casa tava vazia. O rapazinho, se aproveitando da situação leva o namorado em casa e vai pro quarto, mas surpreendentemente papai chegou mais cedo em casa e pega o garotão dele, quase que literalmente, com a boca na botija. Começa o escândalo, gritos, muito soco na parede e etc... A primeira preocupação do garoto era colocar o namoradinho (17 anos) pra fora, mas o pai trancou a porta, por que dali ninguém saía. E a discussão começou a ganhar mais consistência, de um lado o filho tentando falar que aquele era um problema deles e que o moleque deveria ser liberado, do outro o pai bufando, urrando, grunhindo... E no meio desse furacão surge a simpática velhinha da porta e trava o seguinte dialogo:

- Luiz Otavio, você pode falar mais baixo que eu não estou ouvindo a televisão?

- Ta bom mamãe, desculpa.

- Juninho, você trouxe um coleginha? Eu não tinha visto...

Na seqüência a discussão se deu acerca da covardia do menino em se aproveitar da alienação da avó. Esta por sua vez, ficava da cozinha pra sala, enqto a briga continuava. Pai e filho discutindo aos berros, avó trançando e namorado sentado de olho arregalado no sofá. Quando avó terminou de colocar a mesa disse:

- Vamos crianças, vamos comer que dessa vida se leva o que se bebe e o que se come... Para de falar Luiz Otavio, deixa os meninos comerem.

O filho logo sentou na mesa e chamou o namorado pra se aproveitar da situação, o pai ficou atônito sem saber como agir, e a vó solta mais uma pérola...

- Luiz Otavio, você pode comprar adoçante que o meu acabou e eu queria tomar um refresquinho.

- Claro mamãe.

Quando ela terminou saiu andando e ele recomeçou a berraria, foi qdo ela voltou rapidamente e disse.

- Luiz Otavio, é agora.

- Ta bom mamãe.

O pai saiu de casa, e foi a deixa pro menino conseguir tirar o namorado de lá, a discussão continuou mais tarde, os dois sozinhos com os ânimos bem menos alterados.

"É incrível quão inocentes são as pessoas quando ninguém as espreita"
Elias Canetti


Um comentário:

  1. Adorei os dois contos, como sempre criativo e com finais inesperados. Praticamente um Nelson Rodrigues.

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