12.6.11

O Limite do bom humor



A revista “O Globo” fez uma matéria nesse domingo intitulada “ Qual é a graça?’, nela pegava um grupo de 16 humoristas para debater a estúpida pergunta: Há limite para o humor? (bem.. pelo menos pra mim parece estúpida).

O tema da reportagem foi em função do reboliço em torno dos problemas de alguns humoristas com as redes sociais, em especial os do CQC. Tais humorista, que eventualmente estão envolvidos em alguma polêmica por algo que tenham falado no twitter, nesses dias foram assunto por suas declarações contra a amamentação em lugares públicos, uma piada a cerca do estupro e outra sobre judeus.

No primeiro caso Marcelo Tas dispara: Por que tem mãe que enfia aquelas tetas na cara das pessoas na rua? Vai prum banheiro!aquele mamilo que parece um rocambole não tem como a gente olhar.” Na mesma ocasião ainda diz que nunca é uma Gisele Buchen que o faz. Rafinha Bastos em seu show de stand up declara que mulher feia quando estuprada n deveria denunciar o abusador e sim dar um abraço...

Em meio à confusão Marcelo Tas ameaça processar a blogueira Lola Aroninick que o chama de misógino. A Secretaria Especial de Políticas Para Mulheres enviou um ofício ao ministério público alegando que ele faz apologia ao estupro e por fim Danilo Gentilli (que fez a piada sobre judeus) foi advertido pela Band e tirou a piada do Twitter.

Acho a discussão bacana e super-pertinente, mas o questionamento permanece sendo estúpido tamanho a obviedade da resposta. É claro que existe limite pro humor, como existe pra tudo na vida. Na matéria a jornalista, de inicio, diz que embora as opiniões sejam divergentes todos são unânimes em dizer que “o limite deve partir de cada um”. Eu sinceramente não interpretei assim o que foi publicado e categorizaria as opiniões de uma outra forma, mas talvez eles tenham até chegado a declarar isso verbalmente para jornalista que colocou apenas a conclusão.

Na minha interpretação uma parte deles, curiosamente os mais novos, todos falavam mantendo um mesmo padrão de contradição dizendo coisas do tipo: “não tem que haver limite e sim respeito”, ou “não tem que haver limite, mas não devemos esbarrar no mal gosto”... Enfim... Seja lá como conceituam as coisas todos eles ao dizer que não tem que ter limite, imediatamente seguiam dando um limite qualquer. Não sei qual o problema que as pessoas têm com essa palavra.

Aliás, minto... Sei sim... O lance é que problematizar as coisas é difícil, fácil é se agarrar num discurso corrente que aponte pra uma coisa ou outra. Neste caso eu diria que é muito mole levantar a bandeira da liberdade e ir contra censura. Difícil é buscar a justa medida entre as coisas e observar que a liberdade e a censura podem manipular da mesma forma. Na ditadura militar, pela via da censura mantinha-se a população informada com o que se queria, em dias de liberdade burguesa, a possibilidade de se falar o que se quer é o que mantém a população ignorante e torna os veículos de comunicação armas a favor da manutenção do status quo, assim como antes.

Na matéria do Globo os cartunistas Arnanldo Branco e André Dahemer fizeram uma colocação fantástica ao retratar uma humorista que falava sobre estupro e o público caia na gargalhada, seguem dizendo que humor é elaboração e ofensa é instinto e que acreditam que o público não se ofende a toa. Finalizam com a frase que considerei brilhante:

“Tem muito piadista ruim culpando o politicamente correto”.

Aplaudo de pé, acho péssimo quem tenta transformar em chato (chamando de politicamente correto) todo e quaisquer movimento contra uma manifestação de humor, como se toda ela fosse de bom gosto. Se ofender é sinal de ser histérico, estar de TPM, azedo, mal comido e por ai vai. Por que em nome do bom humor tudo é permitido.

Tudo é permitido?? Calma ai cara-pálida, o bem humorado Marcelo Tás encontrou perfeitamente o limite das coisas quando se sentiu ofendido ao ser chamado de misógino e ameaçou processar a blogueira... Ahhh... Claro, o problema não foi a crítica e sim o formato. Foi feto de forma seria, se fosse feita com humor, não haveria problemas, certo??? Ela deveria muito bem humoradamente dizer que se começarem a censurar tudo que é feio Marcelo Tás nunca mais pode sair de casa.

Dahemer fala que é possível ser engraçado e contundente sem perder a classe e machucar ninguém. Concordo, mas não é pra qualquer um, nego pra fazer piada tem que pisar na cabeça dos outros, é simples, prático e consegue tirar riso. Da pra ser diferente, mas exige, pensar no que se diz... Que também nem é tão difícil, mas as pessoas em geral fazem do mais fácil um hábito e da excelência uma utopia.

A conclusão da matéria é tão estúpida quanto o pensamento... O limite deve vir de cada um??? Do bom senso de cada um??? Mesmo diante de um tsunami de situações onde o bom humor, ultrapassa o bom senso??? Não vejo dessa forma e as opiniões do Dahemer tb n me parece seguir nessa direção , nem Lúcio Mauro quando diz que alguns comediantes fazem da polêmica no twitter suas profissões.

Posso até acreditar que qq tema pode, se bem feito, ser tratado com humor, a questão não é o conteúdo, mas a forma que é feito. Partindo desse pré-suposto penso que tem limite sim, não tem de partir de cada um, quem se sente ofendido deve tomar as devidas providencias, a justiça tem que agir com bom senso onde está faltando e ser politicamente correto pensando no que se diz, não é defeito. É através do humor de mal gosto que se proliferam preconceitos que não tem a mínima graça e devem ser tratados com seriedade, venham eles do truculento Bolsonaro ou do bem humorado Marcelo Tás.

10 comentários:

  1. Com certeza tem comediante que nem sabe o que fala imagina fazer uma piada com algum tema.. aff muito sem noção


    bjos

    ResponderExcluir
  2. "Tem muito piadista ruim culpando o politicamente correto"... Taí, uma observação mais que pertinente.

    ResponderExcluir
  3. Mais uma reflexão daquelas que fizeram eu me apaixonar por você. Perfeito, Gatão!

    ResponderExcluir
  4. tem graça pq são direcionadas para um publico que pode-se dizer de pouco conhecimento cultural, que vê graça em certos preconceitos e estereótipos. Piadas envolvendo homossexuais as vezes tem graça, eu como gay dou risada, mas deve-se saber a hora de parar e a forma de representar essa piada para não reforçar os preconceitos existentes, e a pida acabar sendo vista como uma representação

    ResponderExcluir
  5. Adoro o GATO com suas garras afiadas ... perfeito querido ...

    ResponderExcluir
  6. Clap, clap, clap!
    Gato... que(m) tu comeu????
    Fez bem, sabia!!!!!
    Adorei a análise!!!!
    Bjz!

    ResponderExcluir
  7. CLAP
    CLAP
    CLAP

    mas eu tenho ressalvas, não evoluo aqui porque ia ser outro post e não um comentário o que não dimunui a clareza de seus argumentos.

    digamos apenas que eu entendo mas temo que acabemos em um lugar onde só vale céu azul, passarinhos e coisas belas...

    ResponderExcluir
  8. Esses garotos ainda não entenderam o princial limite do humor.

    O objetivo do humor é divertir e fazer rir.

    Se causa qualquer outra reação já não é mais humor.

    O que significa que ultrapassou seus limites.

    ResponderExcluir
  9. No site Stand Up Comedy Brasil, Marcos Veras em sua coluna no dia 28 de abril demonstra bem a confusão em que estes garotos se encontram.

    Ao se defender de uma alegada enxurrada "de ofensas, xingamentos e até ameaças de morte" em seu perfil do Orkut por causa de uma de suas tiradas ele diz:

    "Apenas fiz uma piada e piada é pra rir e ponto."

    Ele pressupõe que só porque ele trabalha como comediante o que ele escreve deve ser considerado como "uma piada" e que por isso as pessoas tem que "rir e ponto".

    Mas uma piada não é uma piada só porque foi escrita e contada por um comediante.

    Uma piada é uma piada porque faz as pessoas rirem.

    Se provoca tal reação de rejeição por parte do público, o que ele escreveu pode ser qualquer coisa menos uma piada.

    Vejam que eu não estou avalizando a reação um tanto exagerada do público.

    Mas que qualquer artista precisa entender, e a maioria entende, que o plúblico reage às suas ações.

    O bom humorista é aquele que percebe o que pode ser considerado engraçado pelos outros.

    E não aquilo que só ele e alguns poucos como ele acham engraçado.

    ResponderExcluir
  10. Concordo com vc sobr tudo isso... e com o saulo de Tarso tb...

    Abração!!

    ResponderExcluir